quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Seus olhos sempre puros























Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas ao horizonte dos mares,
De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,
A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
E contemplar seu próprio corpo obediente e vão.

Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,
Deuses de prata que tinham safiras nas mãos,
Deuses verdadeiros, pássaros na terra
E na água, vi-os.

Suas asas são as minhas, nada mais existe
Senão o seu vôo a sacudir minha miséria.
Seu vôo de estrela e luz,
Seu vôo de terra, seu vôo de pedra
Sobre as vagas de suas asas.

Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.

Paul Éluard
Tradução: José Paulo Paes

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Olhos






















Dois pássaros voam,
de um leve azul inebriados.
De onde os vejo
Só há o espelho quieto de um lago.
E já não sei o que é mais visível
se o que enxergo, as aves,
com meus olhos,
ou se aquelas flautas moventes
sincronizadas,
que sonho
com os olhos quietos do lago.

Fernando Campanella

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

COMO NASCEM AS MANHÃS













O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece.

Flora Figueiredo

sábado, 28 de novembro de 2009

Na esperança de teus olhos
















Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente as solidões da minha espera
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia borborinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda,
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...

Vinicius de Moraes



Olhos de ontem






















Olhos que querem
Olhar alegres
E olham tão tristes!
Ai, impossível
Que um muro velho
Dê brilhos novos;
Que um tronco seco
Abra outras folhas,
Abra outros olhos
Que este, que querem
Olhar alegres
E olham tão tristes!

Ai, impossível!

Juan Ramón Jimenéz
Tradução de Manuel Bandeira



















olhar o mesmo olho
com outros olhos

em outro olhar
o mesmo olho

nos mesmos olhos
o olhar do outro
de olho

Alice Ruiz

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dentro dos olhos














De onde será
Invento os sonhos que não tenho?

De palavras bem ditas e mal ditas
Ao passar da leveza e da brisa
E por elas levadas?

De olhares intrigantes e deixados
Escondidos atrás da porta
Que o vento fechou?

De gestos ímpios e invisíveis
Gravados no deserto da alma
Que as tempestades apagaram?

De onde será vêm
Os sonhos que não consigo ter?

De mim mesmo
desenganado e fragmentado
Ou de minhas imagens
refletidas nos cacos do espelho
Que se quebrou de tantos desencantos?

Oswaldo Antônio Begiato

Perdão se pelos meus olhos























Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
-monótono é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de um silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.

Pablo Neruda
In Últimos Poemas

segunda-feira, 26 de outubro de 2009















A quem como a ti amei eu, ó sombra amada!
Atraí-te a mim, para dentro de mim - e desde então
quase me fiz eu sombra, e corpo tu.
Todavia os meus olhos não aprendem,
afeitos a ver as coisas fora de si:
para eles és sempre o eterno «fora-de-mim».
Ah, estes olhos põem-me fora de mim!

Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Espelhado em teus olhos






















Quando no espelho me contemplo, a frio,
Notando o ultraje que produz a idade,
Sou como quem suporta, ao desafio,
A afronta iníqua da fatalidade.

Mas se em teus olhos, cheios de bondade,
Me revejo, ante a análise, sorrio;
Volvo ao fulgor da antiga mocidade,
Em subitâneo e alegre desvario!

Espelhado em teus olhos, estremeço!
Aos teus olhos, feliz, rejuveneço,
Revibrando de espanto e de alvoroço!

Porque sempre que os beijo e os interpelo,
Por sua refração, me torno belo,
E pelo teu amor me sinto moço!

Martins fontes

sexta-feira, 2 de outubro de 2009




















Quis Deus que a única coisa que não se possa disfarçar seja o olhar do homem.
Alexandre Dumas

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Que Diremos Ainda?

















Vê como de súbito o céu se fecha
sobre dunas e barcos,
e cada um de nós se volta e fixa
os olhos um no outro,
e como deles devagar escorre
A última luz sobre as areias.
Que diremos ainda? Serão palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras?, este rumor tão leve
que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras, ou luz ainda?
Palavras, não. Quem as sabia?
Foi apenas lembrança doutra luz.
Nem luz seria, apenas outro olhar.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Seus Olhos
















Seus olhos - que eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.

Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

terça-feira, 24 de março de 2009

Atitude























Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles



























São dois rios os meus olhos,
- te juro -
noite dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.

Cecilia Meireles

Estes teus olhos





















Eu gosto tanto
Eu tenho encanto
Por teu sorriso
Porque a coisa
Que eu acho louca
É a maravilha
Do teu olhar

Há nos teus olhos
Ilhas distantes e serenas
Há nos teus olhos
Tantos caminhos e trilhas
Há nos teus olhos
Muitas estrelas
Muito, muito silêncio
Muito luar

Teus olhos grandes
Teus olhos tristes
Cuja tristeza*
Me fez te amar


Vinícius de Moraes

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quase perfeito




















Ao som de um violino

sinfonia de amor sem fim

Botão de flor entreabindo

Canteiro de notas musicais

sonhos coloridos em mim

Girassóis em sol maior no olhar

Nas orelhas, brincos de princesa

Sorrisos cheios de sustenidos

Guirlanda de flores nos cabelos

No coração, um amor quase-perfeito.


Nana Pereira

domingo, 22 de fevereiro de 2009

OLHOS NEGROS





















Por teus olhos negros, negros,
Trago eu negro o coração
De tanto pedir-lhe amores...
E eles a dizer que não.
.
E mais não quero outros olhos,
Negros, negros como são;
Que os azuis dão muita esp'rança,
Mas fiar-me eu neles, não.
.
Só negros, negros eu quero,
Que em lhes chegando a paixão,
Se um dia disserem sim...
Nunca mais dizem que não.

Almeida Garrett

domingo, 15 de fevereiro de 2009




























Um olhar se prende não pela visão que propicia,
mas principalmente pela pronfundidade do
que se quer dizer com ele.


(Eliana A. M. Santana)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"Mapa de Anatomia: O Olho"

















O Olho é uma espécio de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globo brilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias,
rochas, naufrágios e peixes de ouro.
Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são invetadas.
O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.
.
Cecilia Meireles