quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Seus olhos sempre puros
Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas ao horizonte dos mares,
De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.
Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,
A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
E contemplar seu próprio corpo obediente e vão.
Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,
Deuses de prata que tinham safiras nas mãos,
Deuses verdadeiros, pássaros na terra
E na água, vi-os.
Suas asas são as minhas, nada mais existe
Senão o seu vôo a sacudir minha miséria.
Seu vôo de estrela e luz,
Seu vôo de terra, seu vôo de pedra
Sobre as vagas de suas asas.
Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.
Paul Éluard
Tradução: José Paulo Paes
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