sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Perdão se pelos meus olhos
Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
-monótono é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de um silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.
Pablo Neruda
In Últimos Poemas
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