Eram de longe. Do mar traziam o que é do mar: doçura e ardor nos olhos fatigados.
Eugénio de Andrade
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domingo, 21 de agosto de 2011
Acordei com vontade de lhe dar meu olhar.
Queria que o guardasse para mim
naquela sua caixinha de porcelana
que tens na cabeceira de tua cama
e onde todas as noites, antes de dormir,
guardas delicadamente
os sonhos que não queres ter...
"Fez tanto luar
que pensei nos teus olhos antigos,
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro desde então nas pedras frias que o céu protege,
e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança nas praias fora do mundo,
muda-se o ar, viram-se as águas.
Até mesmo as pedras com o tempo mudam..."